Chag HaSukot e o nascimento do Mashiach, a Torá Viva

Chag HaSukot e o nascimento do Mashiach, a Torá Viva

Por Tsadok Ben Derech

“A alegria dos três grandes festivais, Pessach, Shavuot e Sukot, nos dá uma participação na Luz Interior de Elohim, trazendo uma nova vida para a mente e alma, e aumentando a nossa percepção de Elohim” (Rabbi Nachman de Breslov, Likutey Moharan I, 30).

SUKOT: VISÃO PANORÂMICA

Temos vislumbrado nosso relacionamento com o ETERNO à luz do instituto do matrimônio. Yeshayahu (Isaías), Hoshea (Oseias) e tantos outros profetas compararam o relacionamento do ETERNO com Yisra’el com o casamento. Afinal, Yisra’el é a noiva e a esposa de YHWH (leia todo o contexto de Is 49:18, 62:5 e Jr 2:2,32 e 33:11; Jr 31:30-33, nas versões cristãs: Jr 31:31-34).

As três festas bíblicas que ocorrem no sétimo mês sinalizam, inequivocadamente, a união de Yeshua HaMashiach com sua noiva. Em Yom Teruá, celebra-se o retorno do noivo Yeshua, que se une com sua noiva. Em Yom Kipur, há o perdão de nossos pecados, ou seja, a noiva fica sem mancha, mácula ou ruga. Em Sukot, o noivo e a noiva estão desfrutando as núpcias.

Neste texto, trataremos da Chag HaSukot (Festa das Tendas/Cabanas), demonstrando sua importância para os discípulos de Yeshua e respondendo a pergunta que não quer se calar: nasceu Yeshua em Sukot? 

A festa das sukot (“cabanas” ou “tendas”) é conhecida, nas versões portuguesas, como “a festa dos tabernáculos”. Prescrevem as Escrituras:

“E falou YHWH a Moshé [Moisés], dizendo:

Fala aos filhos de Israel, dizendo: Aos quinze dias deste mês sétimo será a festa de sukot [tendas ou “tabernáculos”] a YHWH por sete dias.

Ao primeiro dia haverá santa convocação; nenhum trabalho servil fareis.

Sete dias oferecereis ofertas queimadas a YHWH; ao oitavo dia tereis santa convocação, e oferecereis ofertas queimadas a YHWH; dia de proibição é, nenhum trabalho servil fareis.

(…)

Porém aos quinze dias do mês sétimo, quando tiverdes recolhido do fruto da terra, celebrareis a festa de YHWH por sete dias; no primeiro dia haverá descanso, e no oitavo dia haverá descanso.

E no primeiro dia tomareis para vós ramos de formosas árvores, ramos de palmeiras, ramos de árvores frondosas, e salgueiros de ribeiras; e vos alegrareis perante YHWH vosso Elohim por sete dias.

E celebrareis esta festa a YHWH por sete dias cada ano; estatuto perpétuo é pelas vossas gerações; no mês sétimo a celebrareis.

Sete dias habitareis em tendas; todos os naturais em Israel habitarão em tendas;

Para que saibam as vossas gerações que eu fiz habitar os filhos de Israel em tendas, quando os tirei da terra do Egito. Eu sou YHWH vosso Elohim.” (Vayikrá/Levítico 23:33-36 e 39-43).

Em sukot (cabanas/tendas), o povo do ETERNO habita em tendas durante o período festivo de sete dias, recordando-se dos 40 anos em que os filhos de Yisra’el viveram no deserto.

Lembra-se em tal festa que, mesmo residindo em frágeis cabanas no deserto, nunca faltou a provisão do ETERNO, que se manifestava em coluna de nuvem durante o dia, criando-se uma grande sombra para proteger as pessoas do forte sol, bem como em coluna de fogo durante a noite, aquecendo-se o povo do forte frio. No deserto, o ETERNO fez descer do céu, por quarenta anos, o man (“maná”) para aplacar a fome dos israelitas, e jorrou água da rocha para saciar a sede. Infere-se daí que, ao habitarmos em cabanas pelo período de sete dias na festa de sukot, expressamos nossa confiança no ETERNO, o provedor de todas as coisas, que protegeu, protege e sempre estará a proteger os filhos de Yisra’el.

Apesar de trocarmos o conforto de nossas casas e habitarmos em frágeis cabanas durante o período de sukot, tornamo-nos mais felizes. Com efeito, a festa é conhecida como Zeman Simchatênu (“tempo da nossa alegria”). Logo, Sukot é símbolo de alegria, regozijo e felicidade.

Residindo na simplicidade de tendas, lembramo-nos que a felicidade não depende de bens materiais, e sim da presença constante de YHWH em nossas vidas. Elohim está conosco a todo tempo, quer habitemos em palácios, quer residamos em humildes cabanas.

É chamado o oitavo dia da festa de Shemini Atseret. Com o passar do tempo, também passou a ser denominado de Simchat Torá (Alegria da Torá). Por quê? Porque a leitura da Torá está dividida em porções (parashiot) que são lidas em todas as sinagogas no mundo inteiro, seguindo uma sequência. Nos quatro cantos da terra todos os judeus estudam semanalmente os mesmos textos das Escrituras, durante o ciclo anual. É costume judaico que a leitura da Torá seja completada em Simchat Torá e, no mesmo dia, novamente se recomeça sua leitura, no livro de Bereshit/Gênesis. Isto é bastante interessante, pois nunca paramos de estudar a Torá. Afinal, a Palavra deve estar dentro de nossos corações!

Em Simchat Torá, a alegria é tão grande que há o costume de levar a Torá para as ruas e dançar com intenso júbilo, ao som de belos cânticos.

Sobre Shimchat Torá, escreveu o rabino Blech:

“Simchát Torá significa a Alegria da Torá. Isso significa que não basta que um judeu sinta-se feliz com a Torá; a Torá também precisa sentir-se feliz com ele.” (O Mais Completo Guia sobre o Judaísmo, Benjamin Blech, 2004, página 185).

Apresentou-se esta visão panorâmica da Festa das Sukot para que o leitor entenda sua relevância, o que permitirá a contextualização do seguinte tema: o nascimento de Yeshua. 

NASCEU YESHUA EM SUKOT?

Não se sabe, ao certo, quando Yeshua nasceu, razão pela qual seria temerário acrescentar palavras às Escrituras. Todavia, há grande probabilidade (e não certeza) de Yeshua ter nascido na festa das sukot, consoante os motivos a seguir bosquejados.

Prima facie, é possível calcular aproximadamente o nascimento de Yeshua em função da nascença de Yochanan HaMat’bil (João, o Imersor). Em Lucas 1:5, afirma-se que o pai de Yochanan chama-se Zecharyah (Zacarias), que era da divisão de Aviyah (Abias). Zecharyah (Zacarias) era kohen (sacerdote).

Em Divrei HaYamim Álef/1º Crônicas 24, há a divisão dos kohanim (sacerdotes) para servirem no Beit HaMikdash (Templo) em 24 turnos. Cada uma das 24 divisões sacerdotais prestava serviços no Templo durante duas semanas ao ano: 1) a primeira semana ocorria na época da chuva temporã (primeira metade do ano); 2) a segunda semana seria no período da chuva tardia (segunda metade do ano). Além destes períodos, todos os kohanim (sacerdotes) prestavam serviços conjuntamente durante os três festivais de peregrinação: pesach, shavuot e sukot (Devarim/Deuteronômio 16:16). Assim, se cada ordem sacerdotal trabalhava duas semanas ao ano, e todos juntamente serviam durante as três semanas das festas de peregrinação, chega-se ao total de 51 semanas (24 ordens sacerdotais X 2 semanas + 3 semanas das festas = 51). Cinquenta e uma semanas correspondem a 357 dias, o que se compatibiliza com os 360 dias do ano bíblico-lunar. 

Aviah (Abias) era da oitava divisão sacerdotal (I Cr 24:10). Por conseguinte, seu primeiro turno do ano seria, em tese, na oitava semana. Porém, já que na primeira metade do ano há as festas de pesach e shavuot, em que todos os sacerdotes servem coletivamente, então, o primeiro turno de Aviah era na décima semana.

Zecharyah (Zacarias), que era da ordem de Aviah, teve a visão do anjo anunciando o nascimento de seu filho durante o período em que servia no Templo (Lc 1:5-19), ou seja, na décima semana do ano, que se inicia com o mês de Aviv.

Quando terminou seu serviço no Beit HaMikdash (Templo), Zecharyah voltou para casa e engravidou Elisheva/Isabel (Lc 1:23,24). Considerando o tempo da viagem de retorno ao lar e que teve conjunção carnal com sua mulher na mesma semana em que chegou, até em razão da motivação dada pelo anjo, Yochanan (João) foi concebido na 12ª semana do ano.

Afirma a Medicina que a gestação normal dura 40 semanas, donde se conclui que Yochanan (João) nasceu na 52ª semana (12 + 40 = 52). Este período recai praticamente em pesach, valendo lembrar que a tradição judaica afiança que Eliyahu (Elias) apareceria nesta festa para anunciar a vinda do Mashiach. Já que o ETERNO trabalha com precisão profética, é quase que certo que Yochanan nasceu na festa de pesach. Na pior das hipóteses, viria ao mundo pouquíssimos dias antes, com diferença de no máximo 5 dias, levando-se em conta o período normal de gestão apontado pela Medicina. 

Analisando-se Lucas 1:23 a 31, percebe-se que Elisheva (Isabel), já grávida, ficou cinco meses sem sair de casa (Lc 1:24) e, no sexto mês (Lc 1:26), o anjo Gavri’el apareceu para Miryam (Maria) e anunciou que ela daria luz a Yeshua, ou seja, o Mashiach foi concebido no sexto mês da concepção de Yochanan, por volta de 25 semanas.

Então, se Yochanan foi concebido na 12ª semana do ano e a concepção de Yeshua se deu 25 semanas depois, deduz-se que o Mashiach foi gerado pela Ruach HaKodesh na 37ª semana do ano (12 + 25 = 37). Tal época coincide aproximadamente com Chanucá (“festa das luzes”). Eis que interessante: por volta da festa das luzes foi concebido Yeshua, a Luz do mundo!

Como expendido anteriormente, a gestação normal dura 40 semanas. Infere-se daí que Yeshua nasceu por volta da 77ª semana (37 + 40 = 77), o que equivale a 26ª semana do ano seguinte, em torno das festas de Yom Teruá, Yom Kipur e Sukot (em setembro ou início de outubro, e não em 25 de dezembro).

Não se pode afirmar, com absoluta certeza, que Yeshua nasceu em Sukot. Porém, Lucas escreveu que o menino nasceu em uma “manjedoura” (Lc 2:7). Não obstante, vejamos o texto em aramaico da Peshitta, que apresenta um detalhe surpreendente:

וילדת ברה בוכרא וכרכתה בעזרורא וארמיתה באוריא מטל

דלית הוא להון דוכתא איכא דשׁרין הוו

Tradução de Lucas 2:7:

“E ela deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o  באוריא (numa manjedoura/cabana/tenda), porque não havia quarto para eles na hospedaria”.

Com efeito, a palavra “aurya” significa manjedoura, cabana ou tenda (Lexicon to the Syriac New Testament Peshitta, Willian Jennings, página 16; Compendious Syriac Dictionary, Robert Payne Smith, página 8).

Então, Yeshua nasceu em uma cabana ou tenda, que em hebraico leva o nome de “suká” (plural de suká: sukot).

Foi explicado que a nascença de Yeshua se deu por volta do período das festas de Yom Teruá, Yom Kipur e Sukot. Aliado a tal fato, temos que Miryam (Maria) deu à luz em uma tenda (suká). Conclusão: é possível que a suká (tenda/cabana) estivesse disponível para a família porque era o período da Festa das Sukot (Tendas/Cabanas).

Curioso salientar que a palavra אוריא (tenda/cabana), caso seja dividida, forma Luz (אור) e YHWH (יא, obs: em aramaico, estas duas letras são um circunlóquio para o tetragrama). Assim, Yeshua veio ao mundo como a Luz de YHWH. Por outro lado, da palavra אוריא também se extrai ארי, que significa “leão”. Yeshua, a Luz de YHWH, também é o Leão da Tribo de Yehudá (Judá).

Outro fator de relevo diz respeito ao fato de que o anjo anunciou o nascimento de Yeshua “com boas novas de grande alegria” (Lc 2:10-11), e esta cláusula faz parte de uma antiga liturgia da Festa das Sukot.

Acresce consignar que o Judaísmo identifica a Festa das Sukot como uma prévia da Era do Mashiach (Messias), por conta da passagem de Zecharyah/Zacarias 14:16. Em função de tal Escritura, muitos esperam a aparição do Mashiach na Festa das Sukot. Por quê?

Porque no reinado do Mashiach há a menção expressa à Festa das Sukot:

E YHWH reinará sobre toda a terra.

Naquele dia, YHWH será um, e seu nome será um.

(…)

E acontecerá que, todos os que restarem de todas as nações que vieram contra Jerusalém, subirão de ano em ano para adorar o Rei, YHWH dos Exércitose para celebrarem a festa de sukot [cabanas].

E acontecerá que, se alguma das famílias da terra não subir a Jerusalém, para adorar o Rei, YHWH dos Exércitos, não virá sobre ela a chuva.

E, se a família dos egípcios não subir, nem vier, não virá sobre ela a chuva; virá sobre eles a praga com que o YHWH ferirá os gentios que não subirem a celebrar a festa de sukot [cabanas].

Este será o castigo do pecado dos egípcios e o castigo do pecado de todas as nações que não subirem a celebrar a festa de sukot [cabanas].” (Zecharyah/Zacarias 14:9 e 16-19).

Observa-se no texto transcrito que, quando YHWH reinar sobre toda a terra, o que ocorrerá durante o reinado do Mashiach, então, todos terão que ir adorar em Yerushalayim (Jerusalém) e celebrarão a Festa das Sukot. Dizendo de outro modo, quando Yeshua HaMashiach voltar e estabelecer o seu Reino, haverá anualmente a comemoração de Sukot, caindo por terra o argumento cristão de que as festas bíblicas foram extintas.

Hipoteticamente falando, caso tenha Yeshua nascido no primeiro dia de Sukot, então, sua circuncisão no oitavo dia (Lc 2:21) recairia justamente no dia de Shemini Atseret, atualmente chamado de Simchat Torá (Alegria da Torá). Neste caso, Yeshua teria entrado em aliança com o ETERNO no dia em que as pessoas se regozijam com a Torá. Se outrora o júbilo estava na Torá escrita, agora maior alegria há na Torá Viva, que é Yeshua. Afinal, “a Palavra [ = Torá] se fez carne e habitou entre nós” (Yochanan/João 1:14), cumprindo-se a profecia de Baruch:

“Depois disso, apareceu sobre a terra e no meio dos homens conviveu. Ela é o livro dos preceitos de Elohim, a Torá que subsiste para sempre.” (Sefer Baruch 3:38 e 4:1).

Baruch havia dito, séculos antes do nascimento de Yeshua, que a Torá seria vista pelos homens e com eles conviveria, donde se conclui que a Torá se manifestaria como um ser humano. À luz do Tanach, “Torá” é sinônimo de “Palavra”. Já que Yochanan (João) tinha este conceito em mente, assim podem ser traduzidas suas escrituras:

No princípio, era a Palavra [a Torá], e a Palavra [a Torá] estava com Elohim, e a Palavra [Torá] era Elohim…

E a Palavra [a Torá] se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai” (Yochanan/João 1: 1 e 14).

A Palavra [a Torá] da Vida existia desde o princípio. Nós o ouvimos, nós o vimos com nossos olhos, nós o contemplamos, e tocamos nele com nossas mãos! A vida apareceu, e nós a vimos. Testemunhamos dela e a anunciamos a vocês, a vida eterna! Ele estava com o Pai e apareceu para nós.” (Yochanan Álef/1 João 1: 1-2).

Que linda mensagem de Yochanan: Yeshua é a Torá que se fez carne e habitou entre nós! Yeshua é a Torá Viva!

Mister sublinhar que a preexistência e a eternidade da Torá são conceitos incontestáveis do Judaísmo. No Talmud Bavli, masechet Nedarim 39b, há a menção de sete coisas que existiam antes da criação do mundo, incluindo-se a Torá e o Mashiach[1].

Nos escritos citados de Yochanan (João), este seguiu a mesma linha talmúdica, dizendo que o Mashiach é a própria encarnação da Torá. Se não bastasse, Yochanan escreveu que Yeshua (a Torá Viva) é Elohim (Yochanan/João 1:1). Eis a fórmula de Yochanan:

Yeshua = Torá Viva = Elohim (YHWH)

Apesar de não reconhecer Yeshua como Mashiach, o Rebe de Lubavitch também chegou à mesma conclusão de Yochanan, in litteris:

“Pois a Torá e Elohim, o Santo, bendito seja, são um” (Shaar HaYichud VeHaEmunah, capítulo 1, in fine).

Em outras palavras, Yochanan escreveu que a Torá (Yeshua) é Elohim, e o Rebe de Lubavitch também reconheceu que a Torá é Elohim, pois ambos são um. Para aprofundamento de tal tema, consulte os diversos artigos existentes na seguinte página:

https://judaismonazareno.org/yeshua-e-yhwh/

CONCLUSÃO

Celebremos a Festa das Sukot com intensa alegria, pois os dias deste festival nos remetem para:

1) o período em que o ETERNO protegeu nosso povo no deserto durante quarenta anos, sustentando-o com sua graça. Da mesma forma, YHWH continuará habitando conosco para todo o sempre;

2) a lembrança de que somos felizes, ainda que em simples cabanas, porquanto a nossa felicidade está em YHWH, e não no conforto de bens materiais;

3) a Shimchat Torá (Alegria da Torá), que se torna mais intensa por termos a própria Torá Viva, Yeshua HaMashiach, escrita em nossos corações;

4) o bastante provável (não se tem certeza) nascimento de Yeshua na Chag HaSukot (Festa das Cabanas);

5) o Reinado Messiânico de Yeshua sobre a terra, tal como profetizado por Zecharyah (Zacarias);

6) a nossa grande alegria de participar das Bodas do Cordeiro, durante o Reinado Messiânico, o maravilhoso período de núpcias.

חג שמח

Feliz Festa !!!

 


[1] Eis a lista das sete coisas que existiam antes do mundo, segundo o Talmud: a Torá, o arrependimento, o Gan Eden, o Guey Hinom, o Trono da Glória, o Templo e o nome do Mashiach (Messias).

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